Este biombo, encomendado à pintora Filipa Venâncio, é constituído por seis painéis (I-VI, da esquerda para a direita), cada um com três imagens (1-3, de cima para baixo) representativas da Madeira antiga, como os transportes tradicionais, atividades desportivas ou eventos marcantes que foram construindo a sua História. A obra é uma recriação da artista a partir de fotografias da época.
A beleza e diversidade das paisagens na Madeira atraem os visitantes, representando o turismo, direta ou indiretamente, 37% do PIB da região e mais de um terço do emprego. O turista, ontem e hoje, pode apreciar a cidade no miradouro do Pico dos Barcelos (I-1) que se debruça sobre o anfiteatro do Funchal ou, numa perspetiva menos conhecida, no jardim do Lazareto (VI-1), no leste da baía.
Mas saindo da cidade, a paisagem rural é cheia de surpresas: verdejante e regada por ribeiras ((IV-3) ou mais árida no Arieiro (III-1) ou na Ponta de São Lourenço que se vê ao fundo (II-1). Com um passeio a pé pelas levadas (II-3) podemos ter acesso a essa diversidade da Natureza. As levadas são canais de água de irrigação, construídas pelos madeirenses desde o século XV, das nascentes até aos campos de cultivo. A rede de levadas conta atualmente com cerca de 1400 quilómetros de extensão e é candidata a Património Cultural Mundial.
A orografia da ilha deu origem a alguns meios de transporte específicos. É o caso da rede (II-2), utilizada para transportar pela ilha, doentes e senhoras da alta sociedade, através de carreiros e caminhos inclinados ou então o típico carro de cesto (IV-2), experiência que ainda hoje pode desfrutar, desde o Monte até ao Funchal. O transporte de burro ou cavalo (III-3) era outra opção para os passeios, que podiam acabar num piquenique num quintal de uma casa tradicional madeirense (III-2), como fez esta família.
A partir do século XVII a produção e exportação de Vinho Madeira desenvolveu-se e os comerciantes ingleses residentes na ilha levaram as exportações para os mercados coloniais da América e India. A influência da comunidade britânica reflete-se nos desportos introduzidos na alta sociedade madeirense, como o golfe e o ténis, mas pouco conhecidos ou até mesmo desconhecidos pelos ilhéus.
No decorrer do último quartel do século XIX, membros das famílias Hinton e Cossart inauguraram a prática de ténis((I-3), mas os campos para a modalidade eram reduzidos e de cariz particular.
A tradição do golfe na Madeira (II-1) remonta a 1937, um período em que as famílias inglesas Miles, Leacock e Blandy construíram o primeiro campo de golfe da ilha, com nove buracos. Atualmente existem 72 buracos distribuídos por três campos de golfe, dois na Madeira e um na ilha do Porto Santo, tendo sido reconhecido em 2019 como melhor destino de golfe emergente, a nível mundial.
A presença do mar tornam os desportos náuticos populares, havendo uma Associação no Funchal, para atividades de barco e mergulho (IV-1) e a moda de ir a banhos leva à construção, em 1932, da piscina pública do Gorgulho, servida com água do mar, que sofreu ampliações e melhoramentos nos anos 60 (V-1). A piscina e outros equipamentos foram destruídos no grande temporal de 20 de fevereiro de 2010, mas o Complexo Balnear do Lido foi renovado e aberto ao público no verão de 2016, tendo-lhe sido atribuído o galardão “Bandeira Azul”, um símbolo de qualidade ambiental.
Mas é também pelo mar que os forasteiros chegam pelos paquetes, fundeados na baía, o que obrigava ao transbordo em botes, sendo os passageiros ajudados pelos marinheiros ao chegar ao calhau (VI-2).
Ao redor dos paquetes apareciam os “bomboteiros” (V-3), negociantes de produtos da Madeira, como o vinho, bordados e até móveis em vimes da Camacha. Em cestos puxados por cordas subiam para os navios as mercadorias e desciam os pagamentos. Em simultâneo ao bombote, havia a “mergulhança”: miúdos pediam aos passageiros moedas, que eram atiradas das amuradas e que eles recolhiam enquanto elas eram tragadas para a profundeza das águas.
O primeiro transporte aéreo é também pelo mar, neste caso é a chegada da fadista Amália Rodrigues à baía do Funchal, no hidroavião da Aquila Airways (V-2).
E terminamos esta viagem pelo tempo e pela pintura na Rua das Pretas, onde existiu a Pastelaria Íris, doce memória para os funchalenses pelas suas cassatas de gelado e relembrada hoje pelo nome do nosso bar lounge. Mas ainda restam as paredes de uma das confeitarias mais famosas da cidade, a Confeitaria Felisberta (VI-3), que já estava desativada quando foi consumida pelo fogo, nos incêndios que deflagraram no Funchal, em 2016. Atualmente está em curso a sua recuperação.
Nas primeiras décadas do século XX, os animais que conduziam as “corças”, meio de transporte de mercadorias pesadas da época, ficavam alojados em estábulos na rua das Pretas e imaginamos o tráfego caótico provocado por carros e animais (I-2). A falta de higiene e o ruído obrigaram à sua mudança para outros locais mais afastados, pelas autoridades sanitárias.